Denmark

Day 441

First, I am terrible of keeping this blog updated.

Second, yes, I am in Denmark now (actually since August 02nd) and just received the news that I will stay till the end of February.

No, I am not moving permanently to Denmark. Well, at least not now, but if you have a job to offer…who knows 😜

The thing is that I decided to do my Master Thesis’s on Energy Storage for Offshore Wind Farms and Iceland expertise is more on Geothermal Energy. So, I took a chance and got in touch with a teacher in DTU (Denmark Technical University), who is kind of the best European school on this subject, and came here to do my research for a while.

The thing is, this is the second time I applied for a residency in Denmark, I did apply for a resident card on June 2020 as an intern and got it refused cause I am too old to be an intern. According to immigration laws immigrants over 35 years can’t be interns. Funny thing is that Denmark has a law that forbids age discrimination for Danish citizens.

Anyhow, they gave me the option of appeal to their decision, but I would have to pay for it a second time and if they did change their mind I would receive the second fee back with the visa, if they didn’t change their mind I don’t get a visa and lose both fees.

A lawyer friend in Iceland looked my case and advised me to apply as a student, I called the Danish Immigration office and they advised me to apply in Denmark since I was allowed to legally get inside the country for 90 days.

And after a month and a half of the application and appointment for a second round of biometrics, I just got my residency approved till March. Now I need to book and appointment in Rudersdal Commune to get my CPR registered and hopefully the burocracy will be finished 🙌🏻

Will try to write more this week to tell how life is here. Really different from Iceland…

Beijos, Mari

COVID

Islândia, Dia 344

A última vez que escrevi foi no final do ano passado…parece até que foi em outra vida.

2020 é com certeza o ano mais louco da minha vida e possivelmente de muitas outras pessoas. Uma pandemia que tirou a liberdade de todo mundo, matou milhares de pessoas e espalhou medo por todo o planeta.

Na Islândia os efeitos foram bem menores do que no resto do mundo. No total foram 10 mortes e menos de 2000 pessoas infectadas. Mais interessante do que ver os efeitos da pandemia por aqui, foi ver o suporte do governo. O país vive de turismo e com as fronteiras fechadas, o desemprego aumentou absurdamente. Além de suporte financeiro, o governo ajudou empresas e pessoas complementando o salário delas para que não fossem demitidas até que tudo voltasse ao normal. Vários empregos de verão foram criados e mesmo com a situação de volta ao normal, sem o turismo, as coisas ainda vão ficar ruins por um bom tempo.

Enquanto isso no Brasil, estamos em quase 50 mil mortos, quase 1 milhão de pessoas infectadas. Um presidente que diz que não pode fazer nada e que não é coveiro, e depois de 2 ministros da saúde, estamos sem um no cargo tem um mês (apenas um interino). Deveríamos estar aumentado a quarentena, mas ao invés disso, estamos reabrindo o comércio.

Não acho que essa diferença de situações se deva a Islândia ser um país de primeiro mundo e o Brasil de terceiro, a situação nos USA está muito similar a situação no Brasil, portanto acho que tem mais a ver com a inabilidade dos líderes dessas nações.

Tive que cancelar minhas férias no Brasil e postergar conhecer meu afilhado que já tem quase 6 meses. Pelo menos minha família e amigos estão bem e com saúde, mas não tem um dia que eu não tenha medo do que pode acontecer a eles. é bom estar de volta a vida quotidiana por aqui, mas queria muito que todos a quem eu amo pudessem estar na mesma situação que eu no momento.

As aulas acabaram no começo de Abril (foram todas online no último mês e meio devido ao Corona), meu curso de verão em Wind Farms na Dinamarca (Agosto) foi cancelado devido ao COVID. Tive que me inscrever numa aula extra de 3 semanas em Abril/Maio porque calculei os créditos totais errado, mas confesso que foi bom, porque não tenho nada pra fazer até Agosto. Vou colocar minhas notas aqui porque nunca tive notas tão boas e uma média de 8,52 é algo que nunca nem imaginei…hahahaha

Quando as aulas terminaram, foi a vez de trabalhar na renovação do visto Islandês e aplicar pro visto Dinamarquês (odeio burocracia, e meu Deus, quanta burocracia). Pois é, em Agosto me mudo pra Dinamarca por 7 meses, pra trabalhar na minha tese de mestrado com um pesquisador da DTU. Estou bem animada e com um pouco de receio, mas acho que vai ser bom e vai enriquecer minha experiência na Europa com o mestrado. Acho que vai me ajudar também a entender melhor o que eu quero pra minha vida quando esse período acabar em Junho de 2021. Confesso que até o presente momento não faço a menor idéia e estou aberta as possibilidades.

Enquanto isso, tenho mais um mês e meio sem nada pra fazer além de ir pra academia e socializar até as 23 (não entendo por que tudo ainda tá fechando as 23….mas a gente obedece…rsrs). Ahhhh tem umas 2 semanas, descobri que tenho uma alergia absurda a pólen…meus olhos pareciam que iam derreter de tanta inflamação…então agora tomo anti alérgico todo dia, pelo menos até o “verão” islandês acabar (animadores 13 graus).

Semana que vem faço 39 anos, o último aniversário antes dos temidos 40. Nunca me senti tão jovem e tão velha ao mesmo tempo. Vai ser estranho passar o aniversário aqui, sem bolo da minha mãe, sem brigadeiro, sem show da banda, sem meus amigos e familia, mas tenho certeza que terei os meus novos amigos por perto.

Espero que o próximo post seja em menos tempo (sou péssima em dar continuidade a esse blog), e que as coisas tenham melhorado no mundo até lá….apesar de tudo, meu inferno astral me trouxe muita coisa boa…

Por dias melhores, num mundo melhor e por coisas boas que fiquem, para todos.

End of 2019

Prague, Day 161

I am in Prague right now, in a hostel room for 8 women, there are 5 inside the room now. All looking at their phones or computers and not talking, guess staying in hostels to meet people in the new era is not that effective anymore.

I came here because Iceland was too dark, cold, windy and full of memories, and turns out that I still had a month of vacation. My boyfriend for the past 4 months just went back to his home and doesn’t believe in long distance relationships.

I finished the year with the following accomplishments:

  • Sold all my furniture, put my memories in boxes, sorted my shoes and clothes to 2 suitcases left at my mom’s house in Brazil and moved to Iceland with a 2 suitcases, 1 hand luggage and a backpack
  • Ran a Marathon in Vancouver in less than 5 hours
  • Did a farewell concert with my band for 150 people (huge public for me at least)
  • Quit my job (almost), at the end they gave an unpaid leave
  • Started my Master’s in Sustainable Energy Engineering and managed to pass all the classes on my first semester with good grades (1-4 place in Fluid Dynamics)
  • Had 2 relationships that ended with both still in Love
  • Moved to a room in someone else’s house
  • Made a lot of new friends from all around the world
  • Left my family and friends in Brazil and miss them every day

What I miss most from my life in Brazil, apart from people:

  • Pão de Queijo
  • Sun and Beach
  • Walking on shorts, havaianas and a shirt on the streets
  • Doce de Leite and Brigadeiro from my mom
  • Chicken in every kind of way and format
  • Requeijão
  • Having somebody at the gym to do a new work out routine for me
  • My doctors and prescriptions easily, basically my private health care plan

What I love in my new life:

  • Not worrying about my safety 24 hours per day
  • Not working (not sustainable, I know)
  • I don’t like studying, but I do like to know new things and I am happy with the results of studying (when they are good)
  • Young and open minded friends
  • Skyr
  • My freedom

Every time a relationship ends, I try to understand what did I do wrong. There is this romantic inside of me that doesn’t believe that something should end if there’s still love. I don’t see barriers, I see solutions to the problems and I am always willing to sacrifice for it. But all the men I had a relationship with don’t see things this way. They don’t have the courage to change situations or the ability to see how small sacrifices are worthy in the long term.

Or maybe they just didn’t love me enough to do that. That’s usually the conclusion that my head gets to. But I am starting to think that this romantic view I have doesn’t exist, and this is so sad, because I really don’t know what will bring meaning to my life.

I can be alone and happy, but I am way happier when I have a partner, not any partner, somebody that listens to me and laugh and wants to tell me about his day, that misses me and talks stupid small things with me.

Work or studies never fulfilled me by itself, even though I changed my entire life for it a couple of times and I am still pursuing my true passion, without having an idea if I will ever find it.

I want a partner and maybe this was the drive to change my life, so is ironic that when I found it, the changes I made that made it possible to meet him in first place, are the ones making it impossible to continue.

Don’t really know why I ended up writing all this, somehow it had to get out of my heart and head. Also no idea why is in english, I don’t choose the language that my emotions will flow.

What I want to say in this post is that 2019 was an amazing year and I am grateful for it, probably the year where all the changes in my life started and I am very proud of having the courage to start these changes. I have no idea where this will lead me and what will happen in my life in 2020, just hope has a happier ending than 2019.

Final de Agosto

Islândia, Dia 55

To aqui pensando num monte de coisa que aconteceu no final de Agosto (durante minha aula de economia).

Pra começar teve sábado passado, dia 24. Corri a Meia Maratona de Reykjavik, sem treinar direito, tenho treinado toda semana mas pra meia maratona normalmente o treino é mais intensivo. Fiquei a semana anterior sem beber (o que aqui é um feito!rs), não sai na sexta-feira a noite e dormi uma das melhores noites da minha vida antes da corrida. Não tava tão frio, em torno de 10º C (lembrem que é verão) e sem vento/chuva (aqui venta e chove o tempo todo!). Nunca vi tanta gente na rua apoiando os corredores e oferecendo comida, bebida, música, incentivo…corri super feliz o tempo todo e o resultado foi o meu melhor tempo em meia maratona (02:09:44, essa foi minha oitava meia).

Mais especial que a corrida, foi a chegada. Meus novos amigos me esperando e torcendo por mim. Quando penso que em nenhuma das minhas corridas anteriores tive namorado ou família me esperando no final, me pergunto se era pra esperar isso das pessoas, e quando vi eles me esperando as 11 da manhã de um sábado, confesso que fiquei extremamente feliz. Não me entendam errado, a Flávia correu os últimos 3 kms da minha primeira meia maratona comigo, o Renato me apoiou durante vários finais de prova no Rio e nos treinos pra Maratona e o Kel correu comigo a maior parte das corridas, mas esses são os meus melhores amigos de uma vida, não esperava isso dos novos.

Novos amigos

Não preciso nem dizer que começamos a beber as 11:30 né? Porque aqui no final da prova eles dão cerveja pros corredores e meu novo amigo meu levou duas cervejas 🥰

Passamos na vinbudin (loja de bebida), mais cervejas e fomos para um festival de cerveja no antigo porto, e muita risada, mais amigos, mais bebida, passeio num barco ancorado, tudo isso com a mesma roupa da corrida e as pessoas me dizendo que eu tava cheirosa…hahahahaha

Sai do festival as 17, comi, fui pra casa, tomei banho e cochilei uma hora. O dia podia ter acabado aqui, e já seria um dos dias mais felizes da minha vida. Sai de novo as 20 porque o festival cultural da cidade ainda ia começar, fogos de artifício e show de música local.

Literalmente toda a Islândia estava nas ruas, nunca vi tanta gente! Achei meus amigos, vimos o show, os fogos, fomos pro nosso bar preferido, comemos de novo e fui pra casa, feliz, por volta das 2 da manhã.

Culture Night – Menningarnott
Harpa – Iluminado antes dos fogos

Acordei ainda em êxtase Domingo e o tempo tinha virado, um aviso de tempestade a caminho, ventos fortíssimos, chuva e sem sol nenhum. Minha mãe ligou, encontraram minha Dinda morta em casa. 68 anos, ataque cardíaco fulminante. Fiquei tão em choque que não consegui conceber o fato dela ter morrido, pensei na última vez que a vi, num almoço de despedida com as minhas tias todas (são 4 do lado da minha mãe). Ela me deu um gorro cor de rosa de presente de aniversário, me fez um monte de perguntas sobre a minha vinda pra cá e meu namorado (ex namorado agora). Fiquei triste, muito triste, mas dessa vez não foi igual a quando minha avó faleceu e eu estava na Tailândia viajando sozinha, eu tinha amigos com quem contar e a moça de quem eu alugo o quarto foi incrível comigo. Mesmo assim a semana passada foi bem difícil, vários pensamentos na minha mãe, avó, meus primos no Rio. Aquela sensação de que quando algo está bom demais, alguma coisa vai dar errado. Milhões de trabalho da faculdade pra fazer e entregar e cabeça nenhuma pra prestar atenção nas aulas.

Última foto com a minha Tia e Dinda Maira
O último presente dela ❤️

Tinha uma viagem marcada pra esse último final de semana com o meu grupo de mentoria, já tava paga, não queria desmarcar. Na quinta sai com 2 amigas e tivemos uma noite incrível de conversa profunda. Então fui.

E foi incrível, lugares incríveis, pessoas fantásticas, experiências únicas. A primeira vez que via a Aurora Boreal, ainda não foi nem perto do que esperava, mas deitada no capô de um carro, num frio de 3 graus olhando as estrelas, pensei na minha tia, na beleza do que estava vendo e chorei.

E acho que a vida é isso, altos e baixos. Alguns momentos de extrema felicidade e outros de tristeza profunda. E saber aproveitar os bons e aceitar os ruins é parte do ciclo da vida. Não antecipar problemas é como tenho tentando viver minha vida nesse último ano, é difícil, mas é possível.

Ouvi nesse final de semana que não pareço a minha idade e não tenho atitudes de pessoas da minha idade, que ainda tenho a curiosidade sobre a vida que os mais velhos parecem ter perdido (a pessoa disse que era algo bom…rs). Talvez seja isso que me mantenha jovem, essa curiosidade de entender porque estamos aqui e não ter desistido de procurar ainda. Confesso que as vezes me sinto exausta, mas acho que se eu desistir, a vida realmente não tenha mais sentido. E tantos momentos maravilhosos na minha memória me fazem lembrar porque tudo isso vale a pena.

Por do Sol – Landbrotalaug Hot Spring

É isso, vou voltar a prestar atenção na aula, vou focar nos milhões de trabalhos que tenho que entregar essa semana e na que vem. Tem uma mini viagem no Domingo para as Ilhas Westman e não vejo a hora de ir.

Tento falar com vocês em algum momento de inspiração e tempo. Saudades de todos os meus amigos, da minha mãezinha, minhas sobrinhas/sobrinho, Vovózinha, irmão, tias, do pão de açúcar, do cristo, do Leme, de Ipanema, de Picanha, de doce de leite, de pão de queijo e do calor do meu Rio.

Mestrado 👩🏻‍🎓

Islândia, Dia 40

Semana passada começou o Mestrado de verdade.

Segunda e terça tivemos a chegada dos estudantes de intercâmbio, algumas atividades de integração que nem no começo da Escola de verão, seguidas de uma festa na segunda-feira a noite com bebida parcialmente liberada (talvez não a melhor idéia para continuar a integração na terça-feira, já que metade dos estudantes estavam de ressaca e nem apareceram).

Foto do Grupo 5 de Mentoria (Meu)

Agora não somos mais 30 alunos, somos 170! Muitos alemães e europeus em geral, vindo passar um semestre na Universidade de Reykjavík. Saímos no jornal local, pois aparentemente “Fall Semester” (aqui tá pra começar o Outono e é como eles chamam o período letivo) em Islandês significa “Falhar o Semestre” e ficamos conhecidos como os estudantes que aspiram falhar…hahahahaha

To segurando o segundo L, espero que não falhe de verdade…

Não tenho absolutamente nenhuma foto da festa que foi num clube chamado Austur, que fala Ustur e significa Leste em Islandês. Tava me divertindo tanto que esqueci que o celular existia. É uma boite, gerenciada por adivinha? Mais um português, mas o Tiago do Dubliner ainda é meu português favorito.

Dubliner é o nosso bar preferido daqui, irlandês obviamente, tem happy hour quase todas as horas (a cerveja é mais em conta que nos outros) e o Tiago é o melhor gerente, além de nos darmos bem porque falamos português, ele é super gente boa, engraçado e atencioso, em um mês a gente já conhece quase todos os bartenders (Ana, Ju, Chris, Maria, etc) e é super bem tratado…chegar e ser abraçado no bar é sinal de que tá bebendo demais?🤔

Tiago, gerente português do Dubliner e tatuador

As aulas de verdade começaram na quarta-feira, tenho aula todos os dias, mas dificilmente preenchem o dia todo. O que é bom, porque vou precisar de muito tempo pra lembrar tudo da época da faculdade. Esse ano fizeram 20 anos que entrei na UFRJ e confesso que achava que não lembrava de muita coisa, mas aos poucos espero que tudo volte.

Minhas matérias esse semestre são:

  • Métodos de Pesquisa – Não faço idéia do que seja, só começa em Setembro.
  • Métodos de Otimização – me lembro vagamente de alguma matéria da UFRJ ter mostrado isso, mas é basicamente o que fiz nos últimos anos como Engenheira de Processo. Muito orgulho de otimizar minha rotina diária também, então essa matéria é a que espero que eu me saia melhor.
  • Economia aplicada a Energia – Muito parecida com a aula de Economia que tive na UFRJ, me lembro de ter ido bem.
  • Armazenagem de Energia – Começa em Outubro, parece interessante, mas confesso que só consigo lembrar da Dilma falando sobre armazenar vento…hahahahaha
  • Dinâmica dos Fluidos – Essa me lembro com detalhes da época do Fundão, mas confesso que não são boas lembranças. Além de ser extremamente difícil, é uma matéria que faço com o pessoal da graduação, o que não obriga o professor a ensinar em inglês o tempo todo…então de vez em quando tenho que usar o tradutor do google pra entender o que tá acontecendo…leve pânico e desespero. Milhões de exercícios toda semana, vai me manter insana.

É legal ter mais gente, mas é triste não ter mais todas as matérias com a turma do curso de verão. Temos 2 matérias todos juntos, sendo que uma só começa em Setembro e algumas com alguns que estão fazendo o mesmo Mestrado. Ainda estamos tentando manter o contato social, mas acho que não vai durar muito tempo. A maioria dos estudantes de intercâmbio vão ficar só esse semestre, enquanto nós iremos ficar 2 anos.

O final de semana passado foi intenso, tivemos a parada gay de Reykjavík, que é completamente diferente de qualquer parada gay que eu já tenha visto no Brasil. É um evento bem família, eles desfilam com carros alegóricos da Igreja principal, por uma rua pintada com as cores do Arco-íris (acho que toda a Islândia estava presente) e depois tem alguns shows num palco em um parque próximo. Bonito, diferente, mas confesso que achei meio sem graça…as nossas são bem mais divertidas.

Hallgrímskirkja – Rua do Arco-íris que obviamente eu não sei o nome
Um dos carros alegóricos
Vista da parada do topo do Loft (bar que tem um terraço). Detalhe pro meu único adereço de Carnaval que veio da Portela pra Islândia, extremamente arrependida de não ter trazido minhas fantasias 😢

Só tenho vídeos da festa depois, e não dá pra colocar eles aqui. Mas sem muita gente despida no palco (tirando um pessoal de roupa de couro com a bunda de fora), absolutamente ninguém se pegando nas ruas e muitas drags! Conheci até um brasileiro que tava de drag pela primeira vez e descobri que ele tem um blog bombante sobre a Islândia…descobri que era brasileiro pela forma como chamou a cachorrinha de Lady Gaga…ele tava com um casal super simpático de Paulistas também…aos poucos vou descobrindo a brasileirada toda aqui 😎

Eu, Luke Bitencourt e Lady Gaga! Ahhh, to de short, porque periguete não sente frio…hahahaha

Mentira, fora do vento e no sol, dá pra aguentar até uns 10 graus com as pernas de fora, os braços não, mas as pernas sim. O lance é que aqui venta muito, tipo ciclone mesmo, ai tu congela. Acho que a diferença de no Rio com 20 graus a gente estar todo encasacado, é por causa da umidade. Ou então já to ambientada ao clima geladeira daqui, que só vai piorar daqui pra frente, menor ansiedade de ver essa escuridão eterna que dizem que está vindo…posso ficar só com a Aurora Boreal?

Mas isso é um problema da Mari do futuro, a de agora vai se preocupar só com a Dinâmica dos Fluidos mesmo…

PS: Antes do mestrado começar teve o show do Ed Sheeran no domingo que foi incrível! O homem é sensacional e a vantagem de ver aqui é que tem pouca gente, então vi super de pertinho ❤️

Summer School ☑️

Islândia, Dia 30

Hoje acabaram as aulas do curso de verão, foram 3 semanas super intensas cheias de dever de casa, apresentações e viagens de campo.

Não faço a menor idéia das notas, tirando os exercícios individuais, que tirei 10 😊, mas acho que fui bem em geral pra primeira matéria do mestrado…ok, ok, não foi das mais difíceis pra quem fez Engenharia Química, mas lembrem que me formei em 2006…

Com certeza a melhor coisa desse curso de verão, além dos amigos incríveis que fiz, foram as viagens de campo. Já escrevi sobre a primeira no último post, mas a segunda foi umas das melhores. O ponto alto além da trilha que fizemos, foi a visita a essa empresa Algaennovation, a tecnologia deles para crescimento de algas é bem impressionante e as algas em si são ainda mais incríveis (mas ai os créditos vão pra natureza…rs).

Nesjavellir

O que não é tão incrível é a parte de segurança nas indústrias locais, aparentemente, a Islândia não tem muitas regulamentações de segurança básicas da indústria e a construção da fábrica que vimos não seguia muitas normas de segurança nem na parte de design e nem na parte de construção. O fato de não ser um país populoso não justifica, a maior parte da produção de energia elétrica vem de geotérmicas e as de baixa temperatura tem temperaturas em torno de 150ºC, enquanto as de alto chegam a 450ºC, todas operando a pressões altíssimas. Quanto a isso o Brasil com a NR13 está bem mais adiantado em relação a países de primeiro mundo.

Voltando as viagens de campo, na terceira semana tivemos uma viagem de 3 dias. Foi incrível, não só pela interação da turma, mas pelos lugares que visitamos. Mas não se enganem pelas fotos, foram muitas horas em um ônibus que alternava entre extremamente frio e extremamente quente (não tem ar condicionado), estradas cheias de pedra e super estreitas (pontes incrivelmente pequenas e abismos assustadores) e as trilhas são lindas, mas são longas e alternam as mesmas condições do ônibus. Pra mim, que adoro esporte e estou em forma, foi ótimo, mas tenho certeza que a maioria dos meus amigos não ia curtir muito…rs

Skaftárheppur, Kendall e Keith 😍

Ahhh dois parágrafos especiais para os lugares que ficamos durante a terceira viagem. Ficamos numa “Guesthouse” na primeira noite, uma casa para as meninas e outra para os meninos, 3 chuveiros na casa das meninas, beliches bem razoáveis, tínhamos uma área em comum para socializar com os meninos, foi super divertido. Teve só um incidente durante o jantar porque não tinha comida suficiente pros vegetarianos (temos vários na turma) e nenhuma comida pros veganos, alguns carnívoros (carne de porco na janta) tentaram pegar as batatas dos vegetarianos (que realmente pareciam deliciosas) e a dona da casa deu uma gritadinha de leve. A comida aqui é tão cara que tudo é contado e os pratos nos restaurantes apesar de serem super caros vem numa quantidade pequena (considerando que eu nunca comi muito e fico satisfeita comendo tudo).

Guesthouse
Moça que gritou e o porco

Na segunda noite ficamos num hotel, literalmente no meio do nada. Era bem grande, tinha muitos quartos e pessoas lá, um bar com cerveja a Kr 1000 (amém, isso são 30 reais por 500 ml e tá barato pros padrões locais). Fecharam uma ala pra gente, 20 quartos com duas camas cada e 3 chuveiros, repito, 3 chuveiros para 40 pessoas. Tá achando ruim? Fui uma das primeiras pessoas a entrar no chuveiro e tomei banho FRIO na ISLÂNDIA! Isso me fez xingar em português (a mim mesma, já que fui eu que me coloquei nesse programa) durante todo o banho…o que aparentemente foi extremamente divertido para as pessoas aguardando na fila do lado de fora. Não consigo entender esse lance da Islândia com os banheiros, não importa qual o tamanho da casa aqui, só tem um banheiro…mas acho que esse hotel (The Highland Center 🙊) ultrapassou as barreiras do aceitável…rs

A turma eu repito, não podia ser melhor (salvo pouquíssimas exceções), tem de tudo: loucura, seriedade, nerds, álcool, música, jogos e muita gargalhada! O que parece ser um consenso é que ninguém tem grana sobrando, o que realmente é a realidade da época de faculdade, e uma boa lembrança de que as vezes se é mais feliz sem ter dinheiro do que se preocupando com ele.

12 pessoas num quarto para 2

Todos os trabalhos foram entregues e apresentados, final de semana livre (domingo tem Ed Sheeran ❤️) e segunda começa o Mestrado de verdade. Aqui a gente usa um sistema chamado Canvas para acessar o material das matérias, eu sei que tenho 6 matérias esse semestre, mas confesso que nem lembro o nome de todas elas porque durante a inscrição estavam todas em Islandês, então acreditei fielmente no meu orientador enquanto ele me inscrevia. No Canvas já estão aparecendo duas: Mecânica dos Fluidos (😱) e Energia em Processos Industriais, então hoje vou beber enquanto posso, porque até Novembro, acabou a brincadeira e em breve vai acabar o sol…hahahahahaha (to rindo de nervoso).

Sólheimajökull Glacier

Volta as Aulas!

Islândia, Dia 19

Essa semana começaram as aulas na faculdade, pode parecer estranho que as aulas comecem em Julho mesmo para os Europeus, uma vez que é verão por aqui, mas acho que a idéia é fazer uma ambientação gradual ao clima e aproveitar o “tempo bom” para as visitas técnicas.

A primeira barreira na verdade foi a idade, como eu já suspeitava, sou a mais velha da turma. Tem mais umas 4 pessoas que tem idade próxima da minha (38), mas o resto varia de 20 a 28. A idade por si só, acho que não significa nada, mas nesse caso a experiência profissional e de vida altera um pouco a forma de encarar as aulas e os trabalhos propostos. Tirando o momento super desagradável essa semana, onde uma das meninas me disse que sou só 3 anos mais nova que a mãe dela (que imagino que tenha tido uma gravidez na adolescência), a maioria teve uma certa dificuldade em acreditar que eu tinha 38, algumas pedindo até dicas de beleza…hahahahaha

Me lembro quando fiz os cursos de música nos Estados Unidos e só tinha adolescente ao redor, chorei no primeiro dia, achando que ninguém falava comigo porque eu era velha, quando na verdade eles estavam intimidados pois achavam que eu era muito mais experiente. Engraçado como a gente esquece o quão tímido a gente era quando era mais novo.

Estou lendo o “21 Lições para o Século XXI” do Yuval Noah Harari, e na parte V ele fala de resiliência, em como viver quando as narrativas antigas desmoronaram e novas ainda não surgiram para serem substituídas. Me identifiquei muito com essa parte, ele diz que mudança é a única constante, na minha interpretação, somos condicionados a aprender somente quando pequenos e depois é criado um certo bloqueio mental sobre não sermos tão capazes de aprender quando mais velhos. A única forma de nos mantermos atualizados, e eu diria até vivos, é aprendendo. Quando encontramos pessoas mais novas, tendemos a não ouvir pois somos mais experientes, ou nos ressentir por eles terem enfrentado menos dificuldade nos anos de formação, uma vez que a internet facilitou e muito a vida acadêmica. Foi criado todo um discurso de que eu sou mais “old school” para justificar a falta de vontade de se modernizar (e ouvi isso essa semana até dos estudantes de 20 e poucos anos), que na minha humilde opinião é somente uma forma de nos mantermos na estabilidade do conhecido, a zona de conforto. A grande verdade é que a tecnologia permite hoje em dia que tudo seja mais simples, então ouvir pessoas mais novas que já nasceram numa era digital, ajuda e muito a se manter atualizado, visões diferentes dos mesmos problemas é o que ajuda a arrumar soluções mais eficientes.

Conforme disse no último post, sair da zona de conforto não é fácil, e voltar a estudar aos 38 anos é algo bem desafiador. Tem exatamente 20 anos que entrei na faculdade, não me lembrava da quantidade de trabalho de casa e em grupo e pesquisa que tem que ser feita. Obviamente que a tecnologia ajuda, mas ainda dá um tremendo trabalho e demanda um tempo enorme.

Antes de vir para a Islândia, estava no trabalho e um dos engenheiros mais novos tava carregando um Ipad para todas as reuniões e usando uma caneta para escrever. Fiquei curiosa e depois de uma reunião, pedi para ele me mostrar como funcionava. Ele me mostrou o programa que usava, tudo que conseguia fazer com ele e me deu os detalhes dos requerimentos operacionais do Ipad (Ipad Pro, Apple Pencil e App Notability). Antes de vir, quando ainda tinha salário, comprei tudo e resolvi ser uma estudante que não gera papel. Joguei fora uma montanha de papel de cursos e faculdade desmontando meu apartamento e me senti super mal com isso, primeiro porque nunca consultei nenhum deles e segundo porque aquelas árvores não precisavam morrer (não combina nada com um curso de energia sustentável, matar árvores a toa). Posso dizer agora que foi a melhor coisa que eu fiz, a faculdade usa um programa chamado Canvas para colocar material didático (com links para sites dentro do material), trabalhos e datas de entrega, também disponibilizou um email da faculdade aonde recebemos comunicados e que nos dá acesso ao pacote office sem custo adicional (o Ipad é ótimo, mas o Office é super necessário).

O curso de verão tem 3 semanas no total, nessa primeira semana tivemos aulas de 9 as 16, um dos dias foi uma viagem de campo a península de Reykjanes. Nossas paradas foram: Planta de Energia Svartsengi (casa do Blue Lagoon Geothermal Spa), Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Lagoa Azul, Grindavík, áreas geotérmicas de Reykjanes e Krysuvík e a última parada entre as placas tectônicas euro-asiática e norte-americana. Pra não poluir demais o blog, quem quiser dar uma olhada nas fotos, segue meu Instagram @mari3m23 ou só dá uma olhada nele, já que ele é aberto. Com certeza foi o ponto alto da semana!

Durante essas 3 semanas temos que fazer:

  1. uma apresentação sobre a Produção/Consumo de Energia do seu país – Essa não vai ter nota, mas foi bem interessante fazê-la, vou tentar disponibilizar aqui na página depois
  1. uma apresentação em grupo de um exercício de “Role Play” – Aonde a turma foi dividida em grupos e cada grupo representa um papel diferente (governo, população, ONG, investidores, empresa, etc) na implementação de um projeto e terá que debater isso durante a apresentação. Acho que vai ser no mínimo interessante
  1. 11 exercícios individuais sobre conversão de energia – apesar de eu adorar esse tipo de exercício, considerei até não fazer pela quantidade de trabalho que eles dão e por não valerem muito na nota final
  1. uma apresentação em grupo de um projeto de energia – essa apresentação tem que ser mais extensa que as outras, uma vez que vale 50% da nota. A nota aqui não é dada só pelo professor, os alunos meio que fazem um nivelamento da nota também, que sinceramente ainda não entendi como funciona, mas assim que entender explico pra vocês
  1. um diário, vídeo, fotos ou blog – sobre as 3 semanas de curso, o legal aqui é demonstrar a satisfação ou não com o curso

Tirando que ainda temos que conhecer todo mundo, socializar, entender como o sistema funciona, nos familiarizar com a cidade e faculdade, essa semana foi bem intensa. Só tenho a dizer que sobrevivi e acho que a segunda semana vai ser um pouco menos estressante. Com certeza esse curso de verão foi uma ótima idéia, porque se tivesse que me adaptar a tudo isso no começo do semestre com matérias mais difíceis, acho que ia enlouquecer.

As aulas eu confesso que tem sido a parte mais desafiadora, prestar atenção. Algumas são super interessantes e não consigo nem piscar, mas outras são extremamente maçantes. Nunca entendi porque alguém faz uma apresentação e lê ela toda pra você em sala de aula, objetivo da apresentação é você ter tópicos para te lembrar sobre o que tem falar e desenvolver as idéias ao longo da apresentação. Objetivo de aula, na minha opinião, é ensinar a desenvolver idéias e não decorar ou enxergar só o dado exibido.

A turma é incrível, tirando a parte das idades que já falei, temos pessoas do mundo inteiro: Brasil, Colômbia, Dubai, diversas partes dos Estados Unidos, Canadá, Vietnam, Indonésia, Bósnia, Bélgica, Austrália, Suécia, África, China, Japão, Islândia (só 4), Inglaterra, Caribe e provavelmente mais alguns países que estou esquecendo. Não somos todos engenheiros, uma vez que o Mestrado em engenharia é uma opção, então além de várias nacionalidades temos vários backgrounds como geologia, meio ambiente, diversas engenharias, advocacia, finanças, etc, isso faz com que as perguntas sobre o mesmo tema sejam bem mais variadas, e as explicações nem sempre vem só do professor, mas da própria turma o que torna as aulas bem mais interessantes.

Independente da idade, nacionalidade, histórico acadêmico ou personalidade, todos estão preocupados com o meio ambiente, a idéia geral é salvar o mundo, o que por si só, já é muito legal. Todo mundo é extremamente amigável, nem todo mundo tem a mesma energia, alguns são mais quietos, outros mais animados e comunicativos, mas durante essa primeira semana, correu tudo otimamente bem. Com o tempo o que acontece é uma separação da turma baseada em afinidades, mas isso acontece em qualquer lugar, acredito eu, seja escola, família, trabalho ou círculo social. Tá sendo muito legal conhecer pessoas novas e fazer novas amizades.

Temos outra visita técnica essa semana e um feriado na sexta-feira, já consegui pelo menos iniciar todos os trabalhos e acho que até o final da semana terei mais tempo pra escrever um pouco mais sobre o período de adaptação na nova cidade.

Zona de Conforto

Islândia, Dia 10

Hoje fazem exatamente 10 dias que cheguei a Reykjavik, mas essa jornada começou na verdade em Setembro de 2018, aliás, se eu parar bem pra pensar, começou no final de 2013.

No Brasil a gente não está acostumado a fazer o que faz a gente feliz, mas sim, o que vai nos dar dinheiro suficiente para termos uma vida de classe média que acha que é feliz (e as vezes até é). Quando eu era adolescente, ao invés de escolher uma faculdade de música que era o que eu realmente queria, escolhi engenharia química, porque era uma profissão que ia me dar retorno financeiro, nas palavras da própria orientadora vocacional: música você pode fazer como hobbie, paralelo ao trabalho de verdade. Muitas vezes já me peguei pensando em como teria sido minha vida, se eu tivesse tido uma orientadora diferente, ou mais dinheiro durante a infância/adolescência que me permitissem enxergar o que me faz feliz e não o que me traz segurança financeira.

No começo de 2013 eu tinha uma carreira bem sucedida em uma multinacional que investia no meu potencial, um noivado e um novo apartamento (alugado) onde íamos começar nossa vida juntos. Tudo como manda a tradicional família brasileira, próximo passo seria ter filhos, que ele queria muito e eu nunca quis. Sempre amei crianças, mas nunca me vi como a mãe de uma, minha vibe sempre foi, se vier é porque tinha que vir.

Ia ser transferida pro exterior, outras propostas apareceram e em nome da Zona de Conforto (não só minha como dele) optei por uma nova empresa e por ficar no Rio. Apesar da nova empresa ser também uma multinacional de renome, recomeçar como mulher no mundo de óleo e gás, principalmente no Brasil, é ter que se reafirmar profissionalmente todos os dias. Com um mês na nova empresa, meu relacionamento acabou e fiquei sozinha com todas as opções que fiz para a minha vida, pensando mais nos outros do que em mim.

Foi por ai que no final de 2013, comecei a tentar entender quem eu era e o que realmente me fazia feliz. Não foi um processo simples, o esporte me ajudou muito no processo, já corria meia maratona na época e intensifiquei muito os treinos, de forma completamente desestruturada e sem acompanhar a alimentação, que no meu caso sempre foi complicada, mas isso conto em outro momento.

Minha psicóloga me indicou um professor particular de música, um ser humano absolutamente incrível que me ensinou a controlar a minha voz e sintonizar meu tom. E assim preenchi minhas manhãs com exercício, meus dias com trabalho e as noites com aula, chopp, terapia, amigos, noitada, etc. Sem tempo pra pensar, me dizendo que estava me descobrindo. Até que no final de 2014 meu corpo quebrou, literalmente, uma rachadura vertical no meu fêmur, resultado da combinação do crescimento de 2 tumores benignos (foram 3 meses assustadores até ter certeza que eram benignos) e excesso de corrida sem fortalecimento correto e com algumas falhas na passada.

Sem exercício, mais tempo pra pensar, mais problemas de auto estima (peso sempre foi um problema pra mim) e menos satisfação em geral em tudo. Comecei a pensar em morar fora, mas aonde? recomeçar em uma nova empresa? largar tudo e viver de música? Começar a se perguntar, por mais que não se encontre uma resposta fácil, já é um começo. Nessa época, sai da terapia, foi extremamente importante pra mim ter feito terapia, acredito que tenha me dado ferramentas para entender como eu funciono e como não deixar a depressão tomar conta de mim. De alguma forma, sentia que minha criatividade era frequentemente questionada na terapia e que minhas idéias que começavam a tender mais para fora da caixa da “família tradicional brasileira” não eram bem recebidas.

Comecei a planejar férias em lugares que amigos estavam morando e a conversar com eles para entender o que era bom e o que era ruim. Dinamarca, Austrália, Londres, Dallas, Canadá, cada um desses lugares tinha seu lado positivo e negativo. A grande verdade é que o Rio de Janeiro é incrível, sempre amei minha cidade, e sempre disse que se fosse segura, com certeza seria o paraíso. Numa dessas férias, resolvi fazer uns cursos de música nos Estados Unidos, e adorei Boston, fiquei lá 3 semanas e entendi o que os meus amigos falavam de morar fora. Não é tanto o lugar, mas sim o propósito de estar ali.

Esse curso de música, foi talvez a parte mais importante desse processo de descoberta. Não foi um curso de música propriamente, e sim de business musical. Tudo que eu conhecia de business de óleo e gás, aplicado a música. Isso me mostrou que eu realmente não queria viver disso, pois ia matar toda a mágica e o amor que a música me trazia. Por outro lado, foi a primeira vez que toquei com uma banda e apesar de ter sido assustador, soube que era exatamente aquilo que eu precisava na minha vida.

Voltei pro Brasil depois dos cursos e comecei a procurar online, fiz alguns testes para algumas bandas e achei meus meninos que me completavam com rock e uma parceria que nunca tinha experienciado antes. Isso era o que eu esperava da música, não precisávamos ser famosos, mais um show aqui e outro ali, me faziam sentir como uma verdadeira estrela do rock, tanto que pintei meu cabelo de rosa.

Isso tirou completamente a opção de largar tudo para viver de música da mesa, além do fato de eu realmente ter descoberto que gosto de ser engenheira. Mas o petróleo não me apresentava mais os desafios que eu precisava, mesmo assim, como visto para morar fora eu não tinha, continuei a aplicar para vagas fora do país, dentro e fora da empresa.

O cabelo rosa e o julgamento alheio é um capítulo totalmente a parte dessa mudança, quando pintei, eu me olhei no espelho por 3 horas seguidas me julgando. Nas primeiras semanas, onde quer que eu andasse, sentia milhões de olhos em mim. Meu chefe na época, conservador religioso, me olhou por 30 mins antes de me chamar pra conversar sobre o meu futuro na empresa, o que eu gentilmente agradeci a preocupação dele e mantive meu cabelo do jeito que eu queria. O que era pra ser um ato de espontaneidade para representar meu momento estrela do rock, acabou se tornando um experimento social, onde as pessoas me notavam mais e me percebiam mais confiante. Comecei a entender o que atitudes como a minha minha, pela minha posição na empresa, representavam para outras mulheres. Fui promovida pouco tempo depois de pintar o cabelo, meu novo chefe demorou umas 2 semanas para reparar que meu cabelo era rosa e me disse que pra ele tanto fazia que cor era meu cabelo, contanto que eu continuasse fazendo meu trabalho bem feito. Entendi finalmente que eu era feminista de berço.

Tive grandes amores durante minha vida, muitos de fora do país e na minha cabeça era aceitável me mudar por amor, mas não por vontade, aquela tradicional criação machista que recebemos desde pequenos. Aprendi a não me deixar mais anular por causa de relacionamento, mas essa as vezes, é uma opção solitária. Recentemente tive uma prova de que relacionamento como eu acho que tem que ser é possível, real e vale a pena. Mas nem sempre os dois estão prontos ao mesmo tempo pra sair da zona de conforto e algumas zonas são bem mais complexas de serem desmontadas.

A nova posição me deu um gás extra, mas desde uma explosão num navio de petróleo em Vitória em 2015 que já vinha me questionando sobre o risco da indústria. Muitas pessoas que começaram a trabalhar embarcadas comigo, foram transferidas para esse navio, nenhuma delas morreu, porém 10 pessoas morreram de forma drástica.

Sem mais idéias do que fazer pra sair da minha zona de conforto, fui pra Itália e Grécia de férias, fiz couchsurfing pela primeira vez (já tinha recebido, mas nunca sido hospedada), fui livre, vi shows de rock incríveis, treinei pra uma meia maratona (em 2016 voltei a correr depois da reabilitação), conheci pessoas incríveis que tinham largado tudo, pela família, pela liberdade ou por exaustão. Voltei renovada, decidida a sair da zona de conforto.

Comecei a procurar por mestrado em energia renovável, fui pra Montevideo e corri minha primeira meia maratona em 4 anos com o meu melhor tempo, resolvi procurar acompanhamento médico para treinar para uma maratona, achei programas de mestrado que sempre faltavam alguma coisa, conversei com uma amiga da Indonésia e ela me perguntou: já olhou na Islândia? São referência na área.

Islândia? Entrei nos sites, os programas são bem legais. País caro, é uma ilha entre os EUA e a Europa. O programa não é tão caro, faço as contas, minhas economias conseguem segurar as pontas por 2 anos de mestrado sem trabalhar. Tenho todos os requisitos, mas certeza que não vão me aceitar. Vou me inscrever, oops, me aceitaram e me deram uma bolsa parcial para incentivar mulheres no mundo da energia. Você precisa de mais algum sinal?

No final de Setembro de 2018 fui aceita e ao mesmo tempo me ofereceram outra posição no trabalho que eu achei que iria aceitar até o último momento, quando recebi a carta de admissão e bolsa parcial. E foi ai que começou a saída da zona de conforto de verdade.

A gente se apega a pessoas, a coisas, a lugares e a gente cria desculpas na nossa cabeça pra se manter nessa zona de conforto. Não me entenda mal, se você está feliz nela, fique onde está, mas de vez em quando, sai só um pouquinho pra ter certeza que ainda lembra o que é felicidade, porque a vida acomoda a gente de um jeito que a gente esquece como é bom ser amado, como é bom fazer novos amigos, aprender coisas novas e ver lugares diferentes.

Durante 8 meses, eu gradualmente reduzi um apartamento mobiliado de 2 quartos a 2 malas de 23 Kgs, 1 mala de mão de 12 kgs e uma mochila. Vendi grande parte do que tinha, doei uma quantidade imensa de roupas e sapatos e alguns móveis/utensílios também, deixei algumas caixas na minha mãe e 3 malas de roupa. Durante esse período, o treinamento pra maratona e dieta, me mantiveram sã e magra de lambuja (terminei a maratona em 4:48). Trabalhei intensamente até o meu substituto chegar, fiz um check up completo antes de perder o plano de saúde, reorganizei as economias que vão me sustentar durante esses 2 anos, fiquei sem apartamento nos últimos 2 meses, vivendo na casa de um amigo e num Airbnb, me preparando para morar num quarto na Islândia por 2 anos.

Em Junho de 2019, me despedi da minha cidade, dos meus amigos, da minha família, das minhas comidas preferidas, da minha máquina de lavar (é sério…rs), da minha empresa (que foi incrível e me deu uma licença não remunerada), do convívio diário com meus colegas de trabalho (de alguns foi mais fácil me despedir do que de outros, mas fiz realmente amizades incríveis lá), da estabilidade financeira, da minha carreira de óleo & gás e me despedi da Mariana que se deixa ser levada pela vida, tomei as rédeas do que vai acontecer daqui pra frente.

Se eu acho que vai valer a pena? Não faço a menor idéia, nem sei dizer o que seria valer a pena. Medo? Tenho muito, mas aprendi a respirar e viver um dia de cada vez, sem antecipar problemas. Saudade? Todos os dias de tudo e de todos, mas sabendo que uma parte de mim está em várias pessoas e lugares e que meu coração é só amor.

Se alguém conseguiu chegar até o final desse texto imenso, obrigada por ter lido um pouco da minha história. Esse próximo capítulo, precisou de muito mais do que todos esses momentos pra começar a ser escrito, vou contando algumas partes conforme o blog for se desenvolvendo, mas esses últimos 6 anos eu achei que precisavam ser explicados desde o começo.

Bem Vinda a Islândia!

Islândia, Dia 5

To tentando começar o blog desde que sai do Brasil, mas não tinha conseguido definir nome, letra, fundo, etc…ai hoje escolhi qualquer coisa e vou começar a escrever.

Pra começar, estamos no verão aqui. Quando sai do Rio de Janeiro, estava fazendo 26ºC durante o inverno, sendo que na semana anterior estava 32ºC. Aqui temos temperaturas variando de 9 a 16ºC, mas é um frio diferente, no Rio quando faz 20ºC eu já estou cheia de casaco, mas aqui uma blusa de manga comprida e um casaco corta vento super dão conta. A umidade é bem similar a do Rio.

Apesar da luz do dia ser algo constante durante o verão (nasce por volta das 3 da manhã e se põe por volta de meia noite), você quase não vê o sol. Ele fica encoberto por nuvens a maior parte do tempo. Acredito que seja meio esquisito no Inverno quando tudo estará ao contrário.

Me mudei pra cá pra fazer Mestrado na Universidade de Reykjavík em Engenharia de Energia Sustentável, as aulas começam dia 22 de Julho no curso de verão. Vim uma semana antes para poder organizar a vida.

A primeira coisa que todo mundo escuta sobre a Islândia é que os preços aqui são exorbitantes, bom, o que posso dizer sobre isso depois de 5 dias. Mercado, restaurante e álcool são realmente bem mais caros que no Rio, eletrodomésticos são mais baratos e roupas/sapatos custam mais ou menos a mesma coisa, com a diferença de se ter menos opções por aqui.

Apesar de aqui ser um dos 13 países do mundo que não tem McDonald´s, tem hamburgueria por todos os lados. Acho que a culinária local não vai ser muito o meu forte, já que não como peixes/frutos do mar. Não sei se tenho coragem de provar o tubarão podre, iguaria local, que nada mais é que o tubarão da Groenlândia enterrado e apodrecido. Quando fresco o mesmo é tóxico e por isso eles enterram para “desintoxicar” e depois comem, mas segundo os sites, o cheiro é de Amoníaco…então acho que vou ver só os amiguinhos provando mesmo…rs

A língua local é o Islandês, bom, quanto a isso só tenho a dizer o seguinte: agora entendo como analfabetos se sentem 😬 Não dá pra entender absolutamente nada! Até nome dos lugares é difícil de entender e guardar. O google tradutor ajuda um pouco, a opção de usar fotos é imprescindível já que nem digitar a gente consegue, já que o alfabeto tem umas letras estranhas, mas as vezes nem ele se entende…rs

Aumenta as letrinhas ai pra se ligar no que eu expliquei!

Pelas ruas, quase todo mundo fala inglês e minhas aulas na faculdade vão ser em inglês também 🙌🏻 O povo é super educado, porém não muito simpático aos estranhos, contato visual e sorrisos pela rua são algo bem difícil de encontrar, mas uma vez que se conhece o Islandês (baseando na dona da minha casa), eles são extremamente simpáticos e amigáveis.

Aluguel aqui é exorbitantemente caro, e morar sozinho é tipo luxo máximo. Aluguei um quarto na casa de uma Islandesa pelo preço de um apartamento de 2 quartos na zona sul do Rio. A casa é incrível, super organizada e limpa, com todas as funcionalidades, meu quarto é espaçoso e arejado, desde que entreguei meu apartamento no Rio, não me sinto tão em casa. A Islandesa é super gente boa, me buscou na estação de ônibus vindo do aeroporto, levou a mim e um amigo para dar uma volta de carro e ver a casa do presidente e super agradável de conversar. O apartamento é super bem localizado, dá pra ir andando pro centro da cidade e tem ponto de ônibus bem perto, apesar de Reykjavík ter ciclovia por todos os lados, as distâncias são grandes e acho que no inverno as caminhadas não serão tão agradáveis.

Ahhhh meu amigo, eu e ele fomos aceitos pelo mestrado mais ou menos na mesma data, eu no Rio e ele no Qatar. Começamos a nos comunicar online em outubro de 2018 e nos conhecemos no dia que cheguei aqui, em Julho de 2019. É bem mais fácil conhecer o lugar quando se tem companhia, e apesar de ele ser 10 anos mais novo, temos gostos bem similares.

Com o Keith e minha casa, não acredito que poderia ter tido maior sorte que essa pra começar 😊

Orla
Sun Voyager
Elliðaárdalur (nome do lugar, rio em Islandês é áin)
Hallgrímskirkja (Igreja)
Hagrid (não deve ser, mas vou chamar ele assim…rs)
Orla